domingo, 20 de novembro de 2016

Para não embrutecer

Para não embrutecer

Para não embrutecer, quebro regras.
Os moldes são feitos para endurecer.
O concreto conserva a imagem,
mas perde o melhor do vento

Para não embrutecer,
amo além do permitido.
Amo pessoas plenas de mundo.
Simplesmente, amo.

Para não embrutecer, leio.
Leio poemas.
Leio a vida.
Leio você.

Para não embrutecer, faço luta política.
Mesmo perdida em minhas retóricas e ciladas.
Faço não por um ato de fé,
faço pelo existir de um mundo possível e melhor.
Por isso, nego e resisto a esta lógica masculina.
Aqui, competição é vício prático.
A transformação se torna sílabas repetidas.
Nesse mundo macho, tem política sem pessoas
e pessoas sem política.

Para não embrutecer,
reinvento meu olhar,
demasiadamente crítico.
Mas também autocrítico.
Assim, contradição é escada e não amarra.

Para não embrutecer,
busco pares e até impares,
pois não existe revolução individual.
Ele é sempre coletiva.
O melhor de mim tem no outro,
e o melhor do outro tem em mim.

A transformação é feminina.
É fêmea. É emotiva. É profunda.
A transformação é mulher.
É feita de nós. É feita por nós.

Ariely de Castro